sexta-feira, 7 de maio de 2010

Adeus à Favela

O jornal O Estado de S. Paulo (4/08/08), trouxe a notícia de que um quarto da população da cidade de São Paulo vive em favelas. Favela é o nome que se dá à “moradia improvisada”, em que residem pessoas de baixa renda. Quando Antonio Conselheiro foi cercado, os militares se mantiveram no alto da favela. Por causa do nome das plantas (arbustos ou árvores) da região (geralmente Cnidosculos phyllacanthus ou Jatropha phyllacanta, euforbiácias – do grego euphor-, “bem nutrido”) , conhecido pelos praças, o arraial foi batizado como favela, nome que se espalhou rapidamente e hoje é aplicado às construções improvisadas.
Se antigamente o termo favela dizia respeito às casas distantes dos centros, em São Paulo, por exemplo, esse cenário mudou. Hoje, as favelas se integraram até aos “bairros nobres”, e se fundem num marar de moradias. As favelas de Conselheiro estavam entre a caatinga e o agreste; as de hoje demarcam a diferença de mundos que separa ricos e pobres e mostra uma terrível situação social brasileira.
Essa situação pode ser mudada – queiramos acreditar… -- com as eleições deste ano. Ninguém espere a solução para todos os problemas, mas é preciso começar a agir. E, mais do que em qualquer outro momento, é preciso fugir dos enganos. Chega de comprar gato por lebre.
A expressão anterior diz respeito a alguns momentos bem interessantes da história. No século XIX, por exemplo, houve, em Coimbra, uma “caçada”, promovida por estudantes, cuja finalidade era… culinária. Em 1871, com os cercos militares a Paris, o gato era servido e muito apreciado. Sobre esse curioso paladar, Câmara Cascudo (Locuções Tradicionais do Brasil) conta que “lebre é pouco apreciada pelo paladar brasileiro. O gato é, quantitativamente, muito mais saboreado, na veracidade da espécie, sabendo-se o que se come.” Se isso ainda vale, em grandes cidades, como a de São Paulo, os moradores podem – com o perdão da brincadeira --, usando uma expressão felina, deitar e rolar, pois há comida de sobra. Camões, em seu Enfatriões, muito antes disso já trazia a expressão, nas falas de Brómia.

Brómia:

«Voyme a tierras estrañas
adó ventura me guia.»
Vai se Brómia e diz Feliseo:

Fantesias de donzelas,
não há quem como eu as quebre,
porque as quebre,
porque certo cuidam elas,
que com palavrinhas belas
vos vendem gato por lebre.

Esta tem la pera si
qu'eu sou por ela finado;
e crê que zomba de mim
e eu digo lhe que sim,
sou por ela esperdiçado.

Por que cargas d’água ainda existem tantas favelas ou por que cargas d’água os governantes demoram tanto a entender que o problema é gravíssimo? Essas são perguntas difíceis de responder. Cargas d’água, por outro lado, em Infermidades da Língua, de Manoel Joseph Payva, tem explicação mais simples. Diz respeito às chuvas violentas e inoportunas, às vezes imprevistas, que chegam com força e trazem uma idéia negativa e fortuita. A expressão já fora registrada em 1618, por Jorge Ferreira de Vasconselos. Depois que a expressão encontra lugar e aceitação popular, adeus.
Adeus, por seu lado, vem da redução de “entrego-te a Deus”, “encomendo-te a Deus”, usada em situações de despedida.

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